Um empate a um golo foi o resultado final no jogo entre Benfica e Casa Pia, no Estádio da Luz, realizado este sábado relativo à nona jornada da I Liga, uma partida em que os encarnados assinaram uma exibição medíocre, lenta e sem garra, um pouco ao nível do que já fizera frente à Real Sociedad no jogo da terceira jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões, de que saiu derrotado também no Estádio da Luz.

Desta feita para o campeonato luso, o Benfica não conseguiu superar o Casa Pia, ainda conseguiu marcar no primeiro tempo mas acabou por consentir o empate na etapa complementar, onde foi protagonista de um futebol apático, sem ideias e sem capacidade de superação face aos obstáculos. Com jogadas desligadas, com alguns rasgos individuais mas quase sempre sem conseguir colocar o colectivo sobre o relvado, a equipa às ordens de Roger Schmidt nunca conseguiu agarrar os adeptos nas bancadas que no final acompanharam a saída de Schmidt para os balneários com uma enorme vaia e um número de lenços brancos já maior do que aqueles que tinham sido mostrados no jogo da Champions.

...o Casa Pia não vinha para ficar encostado à sua grande-área,
frente a um Benfica que sentia dificuldades
em ligar o seu jogo no meio-campo ofensivo.


No arranque deste jogo começou desde logo por ficar evidente que o Casa Pia não vinha para ficar encostado à sua grande-área, frente a um Benfica que sentia dificuldades em ligar o seu jogo no meio-campo ofensivo. Com Trubin na baliza, Aursnes, António Silva, Otamendi e Bernat, foi Florentino quem surgiu neste encontro a fazer a dupla de médios com João Neves, sugrindo na frente uma linha de três jogadores — João Mário, Rafa e Neres — nas costas de Arthur Cabral. Petar Musa, alegadamente com uma amigdalite, ficou fora dos convocados, e Di Maria, de quem se disse ao longo da semana que já estava recuperado da lesão que o afectou, começou o jogo no banco de suplentes.

Do outro lado, o Casa Pia alinhou com Ricardo Batista na baliza, Fernando, João Nunes e Zolotic na linha defensiva com Larrazabal e Lelo a completar uma linha de cinco quando foi preciso defender, Pablo Roberto e Neto na linha média e ainda Yuki Soma, Felippe e Jajá na aposta em lances de transição construídos em velocidade.

Florentino e João Neves no meio-campo de Schmidt

Com as pedras dispostas deste modo no tabuleiro do Estádio da Luz, o jogo começou por ser naturalmente mais disputado no meio-campo defensivo do Casa Pia, mas com um Benfica que raramente conseguia colocar a bola com perigo dentro da grande-área da baliza de Ricardo Batista. Na resposta, quando o pôde fazer, o conjunto visitante procurou sempre imprimir velocidade em ataques verticais, ainda assim travados por Florentino e João Neves, nomeadamente por este último, procurando os médios encarnados responder sempre com eficácia nas recuperações. Ficava ainda assim bem claro que a primeira linha de pressão da equipa do Benfica era facilmente ultrapassável pelo conjunto visitante e raramente apoiava nas tarefas defensivas e de recuperação de posse de bola. Florentino e João Neves acabavam assim por ser fulcrais na concretização da posse de bola para o Benfica, continuando evidentes as falhas nos últimos trinta metros do ataque encarnado.

Ao minuto 19', porém, Lelo apareceu na pequena-área da baliza do Benfica e, sem qualquer oposição, cabeceou para a baliza de um pouco apoiado Trubin, valendo a este que a bola saiu muito alta. Ficava no entanto o aviso do Casa Pia perante a equipa do campeão nacional que tardava em justificar as suas credenciais, frente a um adversário organizado e confiante, que conseguia criar perigo nas poucas vezes em que tinha sucesso na passagem sobre a linha de pressão do meio-campo encarnado.

...a primeira linha de pressão da equipa do Benfica era facilmente ultrapassável pelo conjunto visitante e raramente apoiava nas tarefas defensivas e de recuperação de posse de bola. Florentino e João Neves acabavam assim por ser fulcrais na concretização da posse de bola para o Benfica, continuando evidentes as falhas nos últimos trinta metros do ataque encarnado.


Ao minuto 24', Arthur Cabral, com um gesto técnico perfeito, obrigou o guarda-redes Ricardo Batista a uma defesa por instinto, a primeira de várias que o guarda-redes luso-angolano viria a efectuar, com a bola a sair pela linha de fundo para um pontapé de canto que a equipa de arbitragem, de forma errada, transformou num pontapé de baliza. O Benfica deixava o aviso de que também poderia colocar a baliza casapiana em perigo, nomeadamente no momento em que os remates aparecessem, mas a verdade é que estes raramente apareceram a partir de uma equipa benfiquista na qual ninguém parecia ter coragem de assumir o risco de falhar, perdendo com isso todo o conjunto às ordens de Roger Schmidt.

Ao minuto 33', e depois de um lance em que Neres e Arthur Cabral tinham surgido em contra-ataque veloz mas sem apoio, com lentidão de processos que valeu mesmo para os jogadores do Benfica uma assobiadela do exigente tribunal dos adeptos nas bancadas, acabou Neres por rematar à baliza do Casa Pia, com Ricardo Batista a fazer nova defesa de recurso. Continuavam ainda assim evidentes as dificuldades do Benfica em ligar o seu jogo ofensivo nos últimos trinta metros, com Neres a mostrar-se muito ao jogo mas inconsequente, João Mário a falhar quase sempre no passe ou a passar para trás, e Arthur Cabral também ele a errar ou na recepção da bola ou na definição do passe ou tentativa de remate, invariavelmente sem sucesso.

1-0 por João Mário precedido de falta de António Silva

Sobre o final do primeiro tempo, e quando nada o fazia prever pela forma atabalhoada com que o Benfica continuava a atacar, surgiu mesmo o golo, ao minuto 43', num lance a partir do corredor direito. Aursnes assistiu João Mário num passe para a zona frontal à grande área e este, em dois toques, recebeu a bola, passou a linha de grande área e rematou ao segundo poste para o golo do Benfica, provando que o remate desde fora da área (ou sobre a linha de grande área) podia ter êxito, sem ser preciso querer entrar com a bola na baliza contrária.

Estava assim feito o primeiro golo do jogo, ainda que este tenha sido “manchado” por uma falha do árbitro, isto porque o lance foi precedido de uma falta de António Silva cometida sobre Felippe Cardoso junto à linha lateral no início da jogada, algo que deveria ter merecido a atenção da equipa de arbitragem, senão do árbitro pelo menos certamente do VAR, permitindo a invalidação do golo. O certo é que o árbitro não assinalou qualquer falta, o VAR não deu importância ao lance, e a bola sobrou para Otamendi que colocou em Aursnes com este a fazer a assistência para o golo.

...o lance (do golo do Benfica) foi precedido de uma falta de António Silva cometida sobre Felippe Cardoso junto à linha lateral no início da jogada, algo que deveria ter merecido a atenção da equipa de arbitragem, senão do árbitro pelo menos certamente do VAR, permitindo a invalidação do golo.


O Benfica garantia assim a vantagem no momento em que as equipas recolhiam aos balneários, depois de 45 minutos em que ficava ainda assim muito para corrigir na formação do Benfica, perante um adversário que mostrou ter capacidade para colocar algumas cascas de banana no jogo benfiquista.

Para o segundo tempo nenhum dos técnicos operou qualquer alteração, mantendo-se o figurino de um jogo em que o Benfica continuou a jogar mais no meio-campo contrário, frente a um Casa Pia sempre atento à possibilidade de uma transição rápida de jogadores como Jájá ou Yuki Soma. Mais apática, porém, a equipa da casa entrou ainda mais lenta e inconsequente, frente a um adversário que sabia que com o passar dos minutos, e caso o Benfica não conseguisse marcar de novo, o nervosismo dos jogadores encarnados iria aumentar e a exigência dos adeptos só iria crescer.

Trubin defendeu penálti e acabou a dar frango

Ao minuto 51', e depois de um erro de Otamendi, Florentino é obrigado a “ir à dobra” e, com uma leitura errada do lance, comete uma grande penalidade clara sobre Jájá, levando o árbitro a assinalar o castigo máximo. Felipe Cardoso foi chamado a converter, rematou para o lado esquerdo do guarda-redes, mas um enorme Anatoly Trubin lançou-se para o lado certo e defendeu a grande penalidade, mantendo o Benfica na frente do marcador, merecendo o guarda-redes ucraniano enorme ovação dos adeptos que, por aquela altura, terão retirado quaisquer dúvidas que ainda tivessem sobre o valor deste jovem ucraniano que chegou ao Benfica no início da época.

Sobre o minuto 62' António Silva colocou a bola dentro da baliza à guarda de Ricardo Batista mas o árbitro auxiliar assinalou desde logo o fora-de-jogo do central benfiquista, confirmado depois pelo VAR. Sem golos, era preciso dar outra frescura às equipas e foi Roger Schmidt o primeiro a mexer, fazendo entrar Di Maria para o lugar de Neres, e Jurasék para a troca com Juan Bernat. E a verdade é que no primeiro lance em que Di Maria teve oportunidade de rematar à baliza do Casa Pia, o campeão do mundo argentino obrigou Ricardo Batista a uma enorme defesa, impedindo o que seria o segundo golo dos encarnados. Só que Jurasék viria a assinar uma prestação medíocre, ajudando no afundar do Benfica pelo seu corredor. Mas já lá vamos...

Felipe Cardoso foi chamado a converter (o penálti para o Casa Pia), rematou para o lado esquerdo do guarda-redes, mas um enorme Anatoly Trubin lançou-se para o lado certo e defendeu a grande penalidade, mantendo o Benfica na frente do marcador, merecendo o guarda-redes ucraniano enorme ovação dos adeptos... 


A entrada de Di Maria ainda começou por dar outra frescura ao jogo do Benfica e, do lado do Casa Pia, o técnico Felipe Martins sentiu ser a altura para também ele mexer na sua equipa, fazendo entrar Beni para o lugar de Neto ao minuto 72'. Roger Schmidt respondia com a entrada de Tengstedt por troca com Artur Cabral, com o brasileiro a dividir os adeptos nas bancadas, entre os 57.240 espectadores de acordo com os números oficiais, confundindo-se aqueles que assobiaram e os que aplaudiram o avançado da equipa da Luz quando este abandonou as quatro linhas.

O jogo por esta altura aparecia indefinido, com o Benfica a ser incapaz de agarrar na partida no meio-campo ofensivo, perante um Casa Pia que ainda acreditava que poderia chegar ao golo. E a verdade é que o golo dos casapianos chegou mesmo, ao minuto 80', num lance em que Jurasék mostrou não ter velocidade nem garra, acabando completamente batido por Larrazabal, este chegou isolado à frente de Trubin, enviando a bola por entre as pernas do guarda-redes do Benfica, com Trubin a permitir o grango acabando por desviar com o seu próprio joelho a bola para dentro da baliza do Benfica. O jovem ucraniano passava assim de bestial a besta em menos de meia-hora, e o Benfica tinha agora que correr em busca do prejuízo, algo para o que parecia claramente incapaz.

Ricardo Batista foi eleito “Homem do Jogo” na Luz

O Casa Pia confirmava a crença que vinha demonstrando e o Benfica, sem frescura física e mais lento a recuperar e a pressionar o adversário na luta pela posse de bola, revelava-se incapaz de voltar à vantagem no marcador, numa altura em que Roger Schmidt simplesmente não colocava nenhum jogador a aquecer para mexer na sua equipa. Sobre o minuto 85', Florentino cabeceou a bola enviando-a ao travessão, Ricardo Batista acabou por dominar a bola e Tengstedt não conseguiu chegar à recarga, perdendo-se a oportunidade dos encarnados para voltarem a marcar.

Schmidt acabou por mexer finalmente na sua equipa, apostando agora em Chiquinho e Gonçalo Guedes, por troca com Florentino e João Mário, deixando no banco de suplentes o jovem Tiago Gouveia que frente à Real Sociedad conseguira abanar o jogo, mas que desta feita nem do banco saiu. Do outro lado, respondia Filipe Martins, no minuto 88', com as entradas de Samuel Justo e André Geraldes, por troca com Larrazabal, o autor do jogo, e Yuki Soma. O Benfica por esta altura estava balanceado para o ataque, o guarda-redes Ricardo Batista voltou a assinar duas excelentes defesas a remates dos encarnados, o poste da baliza do Casa Pia também ajudou a equipa vistante ao receber a bola num remate de António Silva, e tudo se conjugava para que o Benfica caminhasse para mais um jogo em que iria perder pontos.

Jurasék, lateral que entrara já durante o segundo tempo, dava conta de falta de velocidade, incapaz de fazer a diferença no seu corredor, e sem brilho nem glória acabou a equipa da Luz por consentir um empate que o Casa Pia fez por merecer, com o guarda-redes Ricardo Batista a fazer a diferença, frente a um conjunto encarnado que jogou sem chama, sem ideias e sem capacidade de fazer a diferença...


Com sete minutos de compensação dados pelo árbitro Cláudio Pereira, Tengstedt recebeu um encosto dentro da área do Casa Pia mas o árbitro ignorou o lance e o VAR nada lhe terá dito, até porque o avançado benfiquista aproveitou o toque para cair em busca da grande penalidade mas de uma forma sem dúvida “artificial”. Com os minutos a escoarem-se, o Benfica foi-se revelando incapaz de desatar o nó górdio em que a sua equipa se transformou.

Jurasék, lateral que entrara já durante o segundo tempo, dava conta de falta de velocidade, incapaz de fazer a diferença no seu corredor, e sem brilho nem glória acabou a equipa da Luz por consentir um empate que o Casa Pia fez por merecer, com o guarda-redes Ricardo Batista a fazer a diferença, frente a um conjunto encarnado que jogou sem chama, sem ideias e sem capacidade de fazer a diferença, revelando-se merecedora, sem qualquer dúvida, da enorme vaia que os adeptos lhe dispensaram, aos jogadores e ao técnico Roger Schmidt, quando estes deixaram as quatro linhas do relvado da Luz. O futuro apresenta-se tudo menos risonho para o Benfica, com três jogos fora de casa para realizar nas próximas duas semanas, nos recintos do Arouca já na próxima terça-feira, Desportivo de Chaves no sábado seguinte, Real Sociedad no próximo dia 9, quarta-feira, e regresso à Luz no domingo, 12, para receber o líder Sporting, um calendário que ou permite retirar a turma benfiquista da crise fazendo-a renascer, ou a afunda ainda mais num cenário negro que se pode revelar fatal para Roger Schmidt. Esperemos pelos resultados deste futuro estendido às duas próximas semanas.

Jorge Reis (texto)
Diogo Faria Reis e Luís Moreira Duarte (fotos)
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